Coentros – O ódio por coentros aos olhos da ciência

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Porque é que eu odeio coentros

E muitas outras pessoas também.

Porque é os coentros são capazes de despertar uma repulsa tão expressiva em certas pessoas? E afinal quem é o culpado, o coentro ou o paladar?

O coentro (Coriandrum sativum L.) é uma erva aromática de grande importância na culinária mundial e em particular na América Latina e Ásia. Originário do Sul da Europa, espalhou-se por várias partes do mundo há milénios nas sacolas de mercadores, sendo adoptado na alimentação de várias culturas. Em Portugal, o coentro é um fiel amigo da nossa gastronomia, ou não temperasse açordas, amêijoas à Bulhão Pato, favas guisadas, e muitas outras receitas.

De facto, o coentro é uma excelente erva, plena de propriedades antibacterianas, anti-cancerígenas e antioxidantes. É muito boa ideia usar coentros na comida, a coisa até faz bem.

Por outro lado, existe uma franja da população que odeia coentros. Atenção, não estamos a falar de simplesmente desgostar ou de outro tipo de esquisitice com este ingrediente. Estamos a falar numa total repulsa. E é aqui que entramos numa das mais disputadas batalhas do mundo gastronómico.

Começo por confessar aqui o meu ódio por coentros. Durante algum tempo tentei assumir que enfim, era uma birra minha. Que com a idade acabaria por encontrar um encanto enorme no verde coentro e até usá-lo com iogurte (…é um molho). Mas não aconteceu qualquer epifania, continuo a não gostar de coentros. E como eu, muita gente.

O característico odor do coentro deve-se a uma série de aldeídos que estão presentes na planta, tais como os n-aldeídos e (E)-2-alecenais. E o odor é o principal desencanto dos coentros, não tanto o seu sabor.

Entre os seus inimigos, é comum ouvir descrições do odor a coentro como sendo semelhante a laca para cabelo, sabão, insectos, ou a erva urinada. Delicioso!

Mas mais uma vez, a ciência vem explicar-nos porque é que somos como somos. Segundo estudos recentes, sabe-se agora que a repulsa por coentros é algo que herdamos dos nossos antepassados. Esta transmissão não se passa apenas por via cultural, mas também a nível genético.

Primeiramente, parece haver uma forte associação etno-cultural ao ódio ou amor por coentros. Um estudo concluiu que existe uma maior probabilidade de não gostar de coentros entre a população descendente do Leste Asiático (21%), Caucasianos (14%) e Africanos (14%), havendo uma menor taxa de aversão entre pessoas provenientes do Sul da Ásia (7%), Hispânicos (4%) e do Médio Oriente (3%) [1]. Mas esta repulsa baseia-se muito provavelmente em modificações genéticas que estão associadas a essas mesmas populações.

Sabe-se agora que o ódio por coentros parece ser proveniente de modificações genéticas ao nível dos receptores olfactivos. O gene OR6A2 (potencialmente com outros genes vizinhos) codifica um receptor olfactivo que detecta exactamente aquele maravilhoso aldeído com cheiro a sabão que o coentro possui [2]. Logo, os indivíduos que expressam esse(s) gene(s) têm a sorte de chegarem à mesa e sentirem que a sua açorda foi temperada com Persil (ironicamente, “Persil” quer dizer salsa, que também suscita muitos ódios). Por outro lado, as pessoas que não expressam esse(s) gene(s) detectam um odor fresco, vivo e apimentado, sem sabão. Há pessoas com sorte.

Para quem sente a necessidade de expressar o seu ódio por coentros, deixamos aqui alguns grupos de apoio: http://ihatecilantro.com e https://www.facebook.com/I-HATE-CILANTRO-54754722016/

E você? Gosta de coentros?

Why Do People Really Hate Cilantro?

From Visually.

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