Escondidinho do Barredo : ainda há tabernas tradicionais na Ribeira, Porto

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A desginação de “Escondidinho do Barredo” não nos mente em nada. Primeiro, é mesmo escondidinho: não encontrámos um sinal que nos indique a entrada, ou mesmo uma ementa à porta. É assim que esta taberna da Ribeira se tem mantido mais ou menos secreta durante mais de 70 anos. O segundo, é de ser do Barredo, que é o nome da zona onde se encontra.

Entrada / Entry

A proprietária é a Dona Cremilda, filha da fundadora. Hoje, a taberna conta também com as mãos das suas duas filhas, a terceira geração da família. Esta taberna fica num recanto discreto, rodeada por um dos últimos lances das escadas do Barredo de um lado, e um arco de pedra do outro. O interior oscila entre o completamente vazio a totalmente lotado, mas isso não pode servir de intimidação: se a sala estiver vazia, acaba sempre por aparecer alguém (ou muitos) para fazer companhia.

Petiscos no balcão / Petiscos on the counter

Logo à entrada denuncia-se a pequena cozinha e o balcão, que como em qualquer casa de petiscos, exibe já algumas iguarias em travessas. Mas os pratos mais desejados são os que são preparados na hora. A ementa de uma página, que parece ser única e que vai circulando entre mesas, apresenta cerca de 20 petiscos. Orelheira (3.5 €), papas de sarrabulho (1.5 €), sardinha em escabeche (1.5 €), choco frito (8 €), rissóis (1.3 €), tronchas (1.3 €), tripa enfarinhada (1.5 €), polvo (8 €), ovas em molho verde (5 €), as iscas de bacalhau (4.5 €) ou as postas de bacalhau frito (8 €) são alguns dos candidatos à mesa.

D. Cremilda Santos

Pouco depois de nos sentarmos, entrou quem julgávamos ser uma nova freguesa. Bem enganados estávamos, se não era a D. Cremilda em pessoa. Sentou-se numa mesa ao nosso lado e começou por picar uma cebola à moda antiga: cebola firme na mão enquanto enquanto desferia golpes em várias direcções. Falou-nos dos bolinhos de bacalhau que costuma fazer sentada ali mesmo (1.3 €), e de que hoje em dia ninguém os faz por darem tanto trabalho. A receita que usa é de duas partes de bacalhau para uma de batata: se calhar por isso é que são tão afamados.

Tripa enfarinhada / Floured tripe

Como se tratava de um almoço tardio e a fome era já bastante, não fomos comedidos. As iscas de bacalhau da Ribeira são famosas, por isso sabíamos que era pedido obrigatório, as restantes, talvez menos óbvias, a tripa enfarinhada e as ovas de peixe com molho verde.

O primeiro pedido a chegar foi a cesta de pão e broa, que vinha delicadamente coberta por alguns guardanapos. Seguiu-se a tripa enfarinhada, bem dourada e abundantemente polvilhada com cominhos e pimenta branca. Posso dizer que foi a tripa enfarinhada mais bonita que alguma vez vi, totalmente lisa e com a cor e forma alongada de um croquete acabado de fritar. Mas não era só aparência, conseguiu também uma crosta crocante e um recheio macio, e um sabor leve às especiarias do costume.

Ovas com molho verde / Roe with molho verde

Seguiram-se as ovas envoltas num molho verde, que dos candidatos elegíveis à doação, o bacalhau será o mais provável. O ponto de cozedura estava tão bem conseguido que deu às ovas, que facilmente ficam farinhentas, uma cremosidade quase digna de um paté com uma brisa marítima. A grande quantidade de cebola que recobria as generosas rodelas de ovas, parecia apelar mais ao elemento decorativo do que ao comestível. Não se tivesse revelado esta das cebolas mais apetecíveis com que me deparei, sem qualquer ponta de acidez, tudo ali era doçura e frescura. Culpo também o pão que deu uma ajuda preciosa a explorar todos os resquícios de molho verde que nadavam na travessa.

Isca de bacalhau

Com tanta satisfação quase que nos esquecíamos que ainda faltava o protagonista, a isca de bacalhau. Quando a pedimos, perguntaram se sabíamos o que era (isto porque temos ar de turistas) e prontamente nos explicaram que era uma espécie de crepe enrolado à volta de uma tira grossa de bacalhau. Só esta isca era uma refeição, a massa estava estaladiça e a tira generosa de bacalhau estava húmida e lascava magistralmente, qual anúncio televisivo.

Não há como se visitar um local como o Escondidinho do Barredo sem se ficar um bocado emocionado com o que aqui se vive: gerações de uma família que dedicaram e dedicam a sua vida à cozinha. Nesta Ribeira, encontramos comida simples e preparada no ponto, mas também um genuíno bairrismo Portuense, coisa rara por estes lados. Este local com o qual nos deparamos no maior dos acasos, deu-nos motivos para voltar e fez-nos acreditar que ainda vale a pena ir à Ribeira para comer o que mais há de tradicional.

Fica também a dica para explorar o Barredo, uma zona da Ribeira ainda muito intacta, com escadas íngremes e infinitas, ruas escuras e apertadas onde nos sentimos rodeados de arranha-céus medievais. Um Porto tão autêntico que por vezes nos faz esquecer onde estamos.

Escondidinho do Barredo
Rua dos Canastreiros, nº 28
Ter-Dom: 9:00h – 23:00h
+ 351 222 057 229

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