O que comia um operário, em 1905?

O que comia um operário, em 1905?

 

Todos os dias abrimos o jornal, ou outra fonte de informação, onde diz que comemos mal. Que não devemos comer isto, ou aquilo, e que deveríamos comer tal, e outro que tal. E mais vezes do que não, no dia seguinte está verdade já é outra. E tudo o que era excelente é agora tóxico e vice versa.

Para quem achar que isto é uma preocupação dos dias modernos, podemos afirmar que não é bem assim.

A preocupação com a alimentação e a guerra das dietas já vem de trás. Vejamos, a título de curiosidade, o que comia um operário e uma operária no início do século XX.

Um artigo na Enciclopédia Prática (Milhões de Coisas) publicada em 1906 [1], relata-nos um estudo efectuado em 1905, em Paris, pelo Professor Landouzy e Marcel Labbé, onde foram analisadas as dietas de 100 operários e empregados parisienses.

“Eis, por exemplo, como se alimenta um ferrador de 37 annos, que executa um trabalho fatigante. Às 8:30 da manhã, 150 gramas de pão e meio litro de vinho tinto; às 11, dois absinthos; ao meio dia, 150 gramas de pão, 100 de carne, 120 de legumes, três quartos de litro de vinho e café com aguardente; às 6:30, um cálice de absintho, às 7, sopa, 100 gramas de pão, 100 de carne, 70 de legumes, três quartos de litro de vinho e à noite um litro.

Resumo: durante o dia ingere 400 gramas de pão, 200 de carne, 170 de legumes, 150 gramas de absintho, 3 litros de vinho e 40 centilitros de álcool de 50º, o que representa um total de 4.600 calorias por 900 réis.

(…)

A alimentação da mulher operária não é menos defeituosa. Come duas vezes ao dia, 250 gramas de pão, 170 de carne, 80 de salada, 15 de hortaliça, e 2.5 decilitros de vinho. Isto não lhe custa mais do que 160 réis, mas ministra-lhe apenas 1.400 calorias. Uma mulher n’essas condições, com o peso de 55 kilos, devem-se-lhe dar 2.090 calorias”

Em suma, os autores ficaram preocupados com a quantidade astronómica de álcool na dieta do operário, e a dieta é enfim desequilibrada… e cara!  Já na alimentação da operária, consideram que existe um défice calórico para um trabalho tão intenso.

Aos olhos de hoje (e aos médicos de então), consumir 3 litros de vinho é já abusador, mas adicionar a isto mais 150 ml de absinto e um tanto mais de aguardente, é obra. 

É curioso vermos o reflexo centenário das preocupações da nossa sociedade actual. Também julgamos ser interessante olhar para trás e observar os hábitos alimentares dessa época.

Um dia também os nossos descendentes longínquos olharão para nós e para a nossa alimentação com a mesma curiosidade.

Referências
[1] Vários autores (1906) Enciclopédia Prática. Volume IV. Lisboa: Typographia Lusitana-Editora

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