O terroir do vinho do Porto: duzentos e sessenta anos de história (um artigo)

Leia isto em [est_time]

Está prestes a ser publicado na revista Food Chemistry um artigo de revisão sobre o vinho do Porto no qual participámos, numa colaboração entre o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar e o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto. E não, não fomos cobaias a beberricar uns mililitros diários de vinho do Porto para ver se chegávamos aos 120 anos com a genica dos 70. Para esta co-autoria engarrafamos mentalmente muita matéria histórica, geográfica, ampelográfica e química, bem como alguma legislação portuguesa. Todas elas se tornaram óptimas armas para maçar qualquer colega ou familiar com as ínfimas nuances deste vinho generoso.

Mesmo nutrindo uma enorme apreciação pelo vinho do Porto, foram precisos mais do que uns cálices para documentar a terra, o vinho e as gentes. Para a contextualização geral desta temática—porque é preciso namorar-se o tema—acabámos por mergulhar em alguns livros centenários, que podemos afirmar terem sido as bíblias para relatar o quotidiano histórico do vinho do Porto.

O principal foco deste trabalho foi fazer uma revisão bibliográfica sobre o terroir associado ao vinho do Porto. Naturalmente, isso implica um enquadramento dos 260 (agora 262) anos da demarcação da região do Douro. Em 1756, iniciou-se a estipulação dos limites geográficos de onde era elegível produzir vinho do Porto. Mas mais do que isso, a demarcação iniciou o processo de valorização e autenticação das características geoclimáticas tão próprias do Douro, tal como as práticas no seu lavradio, bem como a determinação das castas que compõem o vinho, e mais tarde a composição química e organoléptica do mesmo. Todo este processo, vasto e com trabalho de muitas mãos e mentes, tornou o vinho do Porto no ícone internacional que é: um produto de excelência e um estandarte português.

Aproveitamos para partilhar uma curiosidade sobre o tema: uma (má) prática de antigamente era a de adicionar bagas de sabugueiro (Sambucus nigra) ao vinho do Porto de fraca qualidade, de forma a enriquecer a sua cor e vendê-lo a bom preço. Como se tratava de uma prática de falsificação muito disseminada, Sebastião de José Carvalho e Melo, mais conhecido como Marquês de Pombal, decidiu cortar o mal pela raiz, ordenando que todos os sabugueiros fossem arrancados das margens do rio Douro.

Como a ciência é por vezes pouco democrática, este artigo só está disponível para uma parte da comunidade científica e será difícil para alguém sem credenciais aceder ao seu conteúdo. Por isso em caso de qualquer dúvida ou curiosidade, basta perguntar-nos. [NOTA: Até 4 de Maio de 2018 é possível consultar o artigo na íntegra]

Fica enumerada alguma da bibliografia centenária que utilizámos durante a nossa pesquisa, caso algum interessado a queira pesquisar:

 

ALARTE, Vicêncio (1712) A Agricultura das Vinhas. Lisboa: Officina Real Deslandesiana. 


BRAVO, Pedro e OLVEIRA, Duarte (1925) Vinificação Moderna. Oficina de O Comércio do Porto.


COSTA, B. C. (1900) O Portugal Vinícola, Estudos sobre amelographia e o valor oenologico das principais castas de videiras de Portugal. Lisboa: Imprensa Nacional.


FERNANDES, Ruy (1824) Descrição do terreno em redor de Lamego duas léguas (1531-1532). Lisboa: Academia Real de Sciencias de Lisboa.

FONSECA,  Francisco Pereira Rebello da (1791) Descripção economica do territorio que vulgarmente se chama Alto-Douro. In: Memórias Económicas da Academia Real de Sciencias de Lisboa. Lisboa: Academia Real de Sciencias e Lisboa. p 399.

GIRÃO, António Lobo B F T (1822) Tratado theorico e pratico da agricultura das vinhas. Lisboa: Imprensa Nacional.

LOBO, Constantino Lacerda (1790) Memória sobre a cultura das videiras em Portugal. In: Memórias Económicas da Academia Real das Sciencias de Lisboa. Lisboa: Academia Real das Sciencias de Lisboa.

VILLA MAIOR, Visconde (1876) O Douro Ilustrado: album do rio Douro e paiz vinhateiro. Livraria Universal de Magalhães & Moniz.

VIALA, Pierre e VERMOREL, Victor 1910. Ampélographie : traité général de viticulture. Paris: Masson et Cie. Éditeurs.

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.